Ser sustentável fora da cidade e a utopia do zero waste

À primeira vista, pode parecer mais simples ter um estilo de vida sustentável quando se vive longe da cidade. Ambiente mais pacato, menos carros, uma vida simples... Na prática, não é isso que acontece. 

Quer queiramos ou não, muita coisa ainda acontece apenas nos grandes centros. Quem não está lá, vai lá parar (e, em geral, de carro). Quer estejamos à procura de lojas de segunda mão, lojas biológicas, lojas a granel, é na cidade que as vamos encontrar. E nem sempre é viável, para quem não vive a 5 minutos de metro do centro, optar por essas soluções para conseguir ter um dia-a-dia mais ecológico.


 

Durante muito tempo fiz uma imensa ginástica para ir à cidade comprar produtos a granel, biológicos, que me saíam caros a vários níveis. Continuo muito contente por essas opções existirem, mesmo que só/principalmente nos centros e consigo recorrer a elas algumas vezes, mas deixei de me sentir culpada quando compro algo não biológico ou embalado em plástico porque, para mim, não é a realista, no meu contexto actual, ser zero waster

Ainda assim, tento fazer as melhores escolhas que consigo e é isso que venho partilhar contigo: como adaptar o nosso contexto e possibilidades à nossa vontade de fazer o melhor pelo planeta.

Cozinha
Há coisas que consigo comprar a granel facilmente, como fruta e legumes. Costumo ir a uma frutaria local e levo os meus sacos de rede (que agora já se encontram com alguma facilidade) ou reutilizo os sacos de plástico que vieram parar cá a casa (e que agora tento sempre devolver, explicando que não preciso de guardar). 

 


Em relação às leguminosas secas, consegui abastecer-me na feira local durante as férias. Durante o resto do ano, trago-as do Intermarché da minha zona, que tem leguminosas a granel (não sei se isto é comum a todos os supermercados deles). Quanto às leguminosas cozidas, que dá jeito ter por casa, compro em frascos de vidro, uma vez que posso reaproveitar os frascos. O vidro é sempre a melhor opção porque, mesmo que não queiram reutilizar, é reciclável infinitamente.


 

Faço o meu leite vegetal de arroz. Não é uma receita livre de plástico, porque o arroz é comprado em embalagem, mas rende mais 1Kg de arroz do que 1 litro de leite, ou seja, acaba por compensar em termos ambientais e económicos. Também compro leite vegetal de pacote (soja e amêndoa) e vou alternando com o caseiro.



 

Em relação a massas, arroz, tofu..., compro nas embalagens e coloco nos respectivos ecopontos. Por vezes consigo comprar frutos secos ou sementes a granel, na frutaria local, em alguns supermercados Pingo Doce e na secção biológica do Supercor. No supermercado, a regra geral é optar por frascos sempre que possível (especiarias, leguminosas, jaca em salmoura, manteigas de frutos secos), em seguida cartão/papel (flocos de aveia - no Lidl e os biológicos do Pingo Doce, chocolate, sabonetes) e, quando a opção mais viável é o plástico, reciclo a embalagem no final.


Higiene/beleza

Muitos dos produtos já utilizo em versão sólida, como champô (encontram no Celeiro e lojas online como a Mind The Trash ou a Saponina, entre outras) e sabonete, fácil de encontrar em qualquer supermercado embrulhado em papel como, por exemplo, os portugueses da marca Confiança, ou lojas de centro comercial, feiras de artesanato, lojas online.

Ainda utilizo amaciador em creme de uma marca cruelty free, optando pela embalagem maior, mas quero testar a versão sólida. Para lavar a cara ao final do dia, utilizo sabonete de rosto de argila (encontrei no Intermarché mas também já usei o da Cattier, do Celeiro - vem envolto em plástico mas dura imenso).

Utilizo também as já muito conhecidas escovas de dentes de bambu, mas não utilizo dentífrico sólido porque sou alérgica ao bicarbonato. 

E a parte da higiene está arrumada :)

Não tenho uma rotina muito elaborada de cuidados pessoais. Utilizo óleo de côco, que vem em frasco de vidro e já se encontra um pouco por todo o lado, para hidratar o corpo e pedra de alumen como desodorizante, que comprei numa feira medieval. 

 
Ainda utilizo perfume convencional mas é algo que pretendo mudar. Quero encontrar opções mais ecológicas e naturais mas, de qualquer modo, não é um produto que utilize todos os dias e a embalagem é de vidro.

A parte da beleza é a mais complicada :) Só utilizo um creme e é o mesmo para dia e noite, da Logona (Celeiro, mais uma vez - se quiserem patrocinar) , embalagem de plástico. Lá está, pelo menos é só um produto. Na maquilhagem, esqueçam, tudo plástico e tudo de marcas convencionais, só verifico se o produto é vegan e cruelty free. Tenho vindo a reduzir a quantidade de coisas (de uma forma muito simples, não comprar coisas novas sem usar as que tenho). Já não faço full face todos os dias (na verdade, quase só uso maquilhagem ao fim-de-semana mas é algo de que gosto e que estimula a minha criatividade, por isso não me privo de usar na totalidade) e gosto de todos os produtos que tenho, o que significa que não têm sido compras por impulso - e estou a falar no presente mas a última compra de maquilhagem que fiz foi em Dezembro de 2019, por altura do Natal, até porque pouco depois surgiu todo um Covid que mudou um pouco as nossas bidas.

Para desmaquilhar já não uso toalhitas que, além de não serem recicláveis, nem sequer limpam a pele em profundidade. Utilizo desmaquilhante em creme/«leite» da Elisa Câmara (Celeirooooo). Bom, a embalagem é de plástico mas não uso todos os dias e sempre é melhor do que toalhitas. Era o que dizia no início, por vezes a opção que temos é a «menos má» e não a perfeita. Paciência, fazemos à medida do que podemos. Se podia deixar de usar maquilhagem e não gerar esse desperdício de embalagens? Podia mas, sendo algo de que gosto, decidi não o fazer e optar pelas soluções «menos piores» disponíveis.


Limpeza

Para lavar a loiça compro embalagens de detergente de 1litro ou, sempre que vou ao Porto, faço refil na Vegana By Tentúgal, que também tem detergente da roupa a granel, gel de mãos, detergente multiusos, entre outros. Nem sempre consigo ir à loja quando estou a precisar de produtos ou ter embalagens vazias disponíveis quando vou ao Porto, por isso, esta acaba por ser a área mais complicada de gerir.


 
Para a limpeza de superfícies, etc, utilizo vinagre e bicarbonato de sódio (na imagem acima, mostro um frasco de vinagre aromatizado que fiz com alecrim: basta colocar uma boa quantidade de alecrim ou outra planta aromática a gosto, fechar com o vinagre durante pelo menos um mês, e já está!). Mais uma vez, compro as embalagens maiores que encontrar. Para desinfecção mais profunda, utilizo lixívia e compro as garrafas de 5 litros. Apesar de quase todos os produtos terem embalagem de plástico, tento reduzir na variedade para simplificar rotinas e diminuir a quantidade de produtos químicos da casa.


Guarda-roupa e calçado

Nesta área em particular, tenho muita dificuldade em encontrar opções de compra ecológicas: ou não consigo acompanhar os preços praticados por marcas sustentáveis e nacionais (que acredito plenamente que sejam os preços justos!), ou não me identifico com as peças que encontro em lojas segunda-mão. 

Ainda assim, consigo «recrutar» peças usadas quando a minha mãe descarta camisolas pretas (para quem não me conhece pessoalmente, sou uma pós-pseudo-punk-gótica que continua a usar muito preto) e faço trocas de roupa regulares com uma amiga (teenager style, com direito a prova e tudo). 





Tirando isso, quando preciso mesmo de comprar alguma coisa, ainda recorro à fast fashion, mas tento que sejam realmente compras necessárias e reflectidas e não de impulso. A última peça de roupa que comprei foram calças desportivas para trabalhar a partir de casa sem estar de pijama ou leggins mas continuando confortável :)

O mesmo se passa com o calçado, compro quando preciso e aqui tento que seja calçado nacional, porque já se encontra em algumas lojas (por exemplo, lojas Seaside e outras sapatarias) a preços acessíveis. Acabei por acumular muito calçado nos tempos em que comprava o que achava bonito e não forçosamente confortável, por isso, não será uma área a precisar de renovações tão cedo.

Além disto, procuro optar pelo comércio local, marcas nacionais, produtos feitos em Portugal, sempre que essas opções estão disponíveis!

Estas foram as formas que encontrei de minimizar o meu impacto ambiental de modo realista, tendo em conta o meu contexto. Pretendo sempre aprender mais, pesquisar mais, encontrar melhores alternativas para melhorar o que já consegui, mas sei que lixo zero será muito dificilmente alcançável. 

E não faz mal, porque se todos dermos o nosso melhor, o resultado será sempre um balanço positivo!

 

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