Viver devagar, a minha história da quarentena

Quando começou esta aventura chamada 2020 a minha vida era bastante diferente. 

Trabalhava a cerca de 40 minutos de casa, conforme o trânsito, e levava com filas todos os dias, estava rodeada de pessoas, cheiro a café, barulho, obras e carros. Em Fevereiro tirei uns dias para ir conhecer Madrid - melhor ideia que tive, por todos os motivos! - e dizia «este vai ser o ano das viagens». Para quem não me conhece, adoro viajar, acho que vivo para viajar (bem, agora nem tanto...). Tinha planos para passear, ir a um festival (chorem comigo) e fazer de 2020 o ano! Ah, que inocente :) 


 De início, não liguei muito ao assunto do vírus. Entretanto, o bicho andou a passear o mundo, chegou à Europa e comecei a ver a minha vida a andar para trás mais ou menos por altura do meu aniversário, em Março. E não era surdo quem me ouvisse falar: «se for necessário ir trabalhar para casa, vou ser a última»; «se for para trabalhar em casa, vou estar de pijama e deprimida todos os dias»; «quero ser a primeira a regressar, logo que possível». 

Long story short, fui a primeira a sair e nunca mais voltei. 



 A vantagem mais imediata foi, claro, o ganho de tempo de manhã e ao final do dia. Dormir mais uma horinha todas as manhãs sabe muito bem! De tarde, termino o meu trabalho, vou passear o Pingo e fico logo despachada para fazer um treino, também em casa. Comecei a horta, voltei a escrever, faço mais experiências na cozinha e preparo os meus hamburgueres caseiros de leguminosas e o leite de arroz com muito mais frequência. Ganhei qualidade de vida e aprendi a viver devagar (recorda este post)!

Já fazia parte das minhas prioridades aproveitar bem o tempo livre mas, com mais tempo disponível, consigo fazê-lo todos os dias. Gosto de estar sozinha e gosto de silêncio, por isso, não sinto falta de passar o dia rodeada de pessoas. Não é suposto que estar sozinhos nos faça sentir um vazio. Faz bem estar sozinho e, se nos sentimos confortáveis dessa maneira, é sinal de que estamos bem connosco próprios. O recolhimento, o silêncio e o contacto com a natureza são benéficos para o auto-conhecimento, o bem-estar e para treinar a atenção plena. Ainda assim, o contacto com os outros também é um meio de aprendizagem e evolução. 


 Não tenho data prevista para voltar ao escritório. Por mim, a vida na aldeia é para continuar. No entanto, deixo-te algumas dicas para abrandar, independentemente do estilo de vida que sigas:
 
 
- começa o teu dia a agradecer interiormente. «Obrigada por mais um dia» é um pensamento suficiente para te deixar mais optimista logo pela manhã.
 
- abre a janela, põe o nariz de fora e sente o cheiro do que te rodeia. Vais reparar que o cheiro dos dias quentes é diferente dos dias de chuva, por exemplo! Isto é uma forma de activares os sentidos e ficares logo estares atenta/o às tuas sensações.



- eu gosto de tomar um bom pequeno-almoço quentinho com calma. Se não és pessoa de pequeno-almoço, encontra algo que gostes de fazer pela manhã: ler umas páginas de um livro, fazer 10 minutos de yoga, meditar, massajar o rosto e aplicar um creme em seguida, etc . Isto pode implicar levantar mais cedo ou abandonar outro hábito matinal menos necessário, como carregar o rosto de maquilhagem, como eu fazia, ou ir espreitar as redes sociais.

- não saias tarde de casa. Começar o dia a correr é meio caminho andado para o resto do dia correr mal.

- leva lanches saudáveis para o trabalho/faculdade/escola : fruta, frutos secos, bolachas caseiras de aveia ou, porque não, bolinho caseiro de vez em quando. Escolher e preparar o nosso lanche é uma forma de cuidar de nós! Se puderes, leva também marmita para o almoço. Cuida de ti de dentro para fora. Mastiga devagar e aproveita a hora das refeições para desligar, seja do trabalho ou dos problemas.





- faz algo de que gostes todos os dias: exercício (caminhar também conta!), ler, escrever, ouvir música, ouvir um podcast, ver um filme ou um episódio de uma série, pintar. Faz só uma coisa de cada vez.

- mantém a casa limpa e arrumada. Um ambiente organizado, sem roupa espalhada ou loiça por lavar, ajuda a que o teu espaço irradie tranquilidade e, consequentemente, te sintas melhor em casa.

- depois de jantar, começa a preparar a tua mente para a hora de dormir. Deixa apenas uma luz de presença ligada, veste o pijama. Se levaste trabalho para casa, tenta não ficar com o computador ligado até adormecer. Algo que me ajuda a entrar no mood nocturno rapidamente é ouvir meditações guiadas quando já estou prontinha a dormir. Não falha!



- dorme as horas necessárias que acordares bem. No meu caso, 8 horas são sagradinhas, mas isto depende muito de pessoa para pessoa. Para ti, podem bastar 6 ou podes precisar de 9, mas é fundamental acordar com a sensação de ter descansado o suficiente (coisa que já não me acontecia há muito tempo quando "aterrei" em casa, em Março). De qualquer modo, se acordas com dificuldade mas não consegues adormecer cedo, isso não vai mudar de um dia para o outro. Começa gradualmente a deitar mais cedo, mesmo que inicialmente demores a adormecer, e vai ajustando. Se fizeres isto, vai acontecer contigo o que aconteceu comigo: eu levanto-me todos os dias mais ou menos à mesma hora, seja dia de trabalho ou folga, porque o meu organismo já se habituou e não me sinto cansada. Durante a semana, 6h45 e lá estou eu de pé, ao fim-de-semana, é mais pelas 7h15/7h30 :) 
 
- todas as noites, antes de adormecer, pensa em duas ou três coisas positivas que aconteceram ao longo do dia. Podem ser coisas simples, como  ter concluído um trabalho/tarefa difícil, ter finalmente arrumado a secretária, ter tomado um café quentinho e aconchegante pela manhã, ter conseguido meditar ou ter feito uma pequena caminhada. Tenho a certeza que, no final de cada dia, há sempre várias pequenas coisas positivas a recordar!


 

E tu, que dicas acrescentarias?

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