Imperfeições

Este blog (assim como o meu Instagram) nunca foi sobre perfeição. Ser perfeitamente sustentável, ter uma alimentação perfeita (seja isso o que for), ser uma yogi perfeita numa prática perfeita de slow living na ascenção ao perfeito nirvana... Nunca se tratou disso. 

Este blog é sobre uma jornada que talvez nem tenha meta. É sobre tentar, aprender, partilhar, conhecer. Dicas novas, uma receita, uma actividade diferente, experiências. É feito a partir de ideias minhas e sugestões que me vão chegando. Por isso, vou partilhando hábitos mas também vou aprendendo. E vou continuando a fazer o melhor, na medida do possível. E esta medida abre muito espaço para todos os constrangimentos do dia-a-dia, todas as dificuldades, impossibilidades e imperfeições.

Por isso, hoje partilho algumas coisas para as quais ainda não tenho opção ecológica, vegana, saudável, sustentável, etc. Poderei vir a ter, ou poderei nunca conseguir substituir, ou ceder à facilidade de não o fazer. E está tudo bem. Sou do lema «é melhor fazer pouco do que não fazer nada» e também do «se fizer o melhor que consigo, estou a fazer um óptimo trabalho»; porque pequenos passos fazem a diferença e nem sempre conseguimos acabar a maratona em primeiro, mas o que conta é participar (mesmo!).

Aqui fica uma lista de imperfeições.


Maquilhagem

É necessário usar maquilhagem? Não. Tem impacto ambiental? Tem, e humano também. Muitos dos ingredientes utilizados na maquilhagem, como a mica, são obtidos através de trabalho escravo de crianças (sobre este assunto, aconselho a reportagem The Dark Secret Behind Your Make Up Products do canal Refinery 29). 


 Não me comprometi a deixar de usar maquilhagem, mas tenho tentado reduzir a diversidade e quantidade de produtos que tenho, assim como a regularidade das utilizações. Costumava utilizar maquilhagem todos os dias e tenho optado por fazê-lo apenas nos dias de folga. Tenho uma «colecção» bem pequena de produtos e utilizo tudo até ao fim, sem acumular produtos novos. Além disso, vou tentando encontrar opções biológicas ou com embalagens menos poluentes. Mas o ideal é mesmo ter o menos possível e utilizar os produtos até ao fim. 


Produtos de marca branca

Adorava poder usar apenas produtos nacionais, em embalagem sustentável (ou sem embalagem, até), feitos com materiais ecológicos. Mas nem sempre essas são as opções mais fáceis de encontrar e, sobretudo, mais económicas. Opto muitas vezes por produtos de marca branca. Leite vegetal, papel higiénico, arroz e massas são alguns desses produtos.


 Plástico 

Consegui diminuir o uso de plástico ao fazer o meu leite de arroz (alerta spoiler: receita no próximo post!), que vou alternando com leites vegetais de pacote, ou comprando as leguminosas a granel na feira local sempre que consigo e optando por cosméticos em barra, como o sabonete ou o champô sólido. Mas nem sempre há solução plastic free para tudo. Uma das grandes dificuldades que tenho é com o tofu. Podia solucionar, ou diminuir o impacto, fazendo o meu próprio tofu caseiro, mas isso implica encontrar grãos de soja à venda (que ainda não encontrei nos meus locais habituais de compras), fazer leite de soja numa primeira fase e depois coagular para fazer o tofu. Tentei fazer uma vez com leite de soja comercial mas não consegui um bom resultado (e acabei por desperdiçar um litro de leite). Por isso, desisti da ideia e compro tofu embalado. 

 


Um doce por dia

Sou pessoa de bolinho, bolachinha, chocolatinho :) Desde miúda que me sabe bem, depois de jantar, um docinho. Durante o dia passo muito bem com fruta, frutos secos e snacks levezinhos, mas à noite... À noite quero o meu doce! Geralmente, vão dois quadrados de chocolate preto (tento que seja sempre UTZ, que é uma certificação que garante sustentabilidade para café, cacau e chá e estabelece um compromisso não só ambiental mas também para com os agricultores), um punhado de amendoins (sei que não é doce mas para mim funciona como uma goluseima, porque adoro) ou alguns figos secos. Em dias especiais e fins-de-semana há bolo caseiro ou uma Kookie Cat. Se era mais saudável sem o meu docinho diário? Talvez. Ou talvez não, porque me retirava aquele momento feliz ao fim do dia a saborear os meus miminhos preferidos. 


Dias de preguiça

Costumo treinar 5 dias por semana e tento mesmo cumprir, porque trabalho sentada durante oito horas e acho importante manter alguma actividade diária. Ainda assim, de vez em quando há aquele dia em que não apetece mesmo! Está frio, não tenho nada em mente para o jantar e preciso de mais tempo para preparar, estou aborrecida ou sem energia... Nestes dias, raramente cedo à tentação de me sentar no sofá, mas também não me forço a cumprir um treino de uma hora.  Faço um treino mais curto, por exemplo de 30 minutos, da modalidade que me apeteça mais naquele dia. Pode ser um treino rápido de cardio a saltar e pinchar, se estiver com energia, ou treino localizado de perna e abdominais, se estiver com preguiça de saltar. Fico com a sensação de dever cumprido na mesma, faço o treino que «desgosto menos» (daí nunca seleccionar braços e costas nestas alturas...) mas não fico a «fazer o frete» de estar ali contrariada imenso tempo. No final da semana treinei menos tempo? Paciência. Como dizia no início, é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada.


Ovos

Nunca disse que era vegana, porque não sou, mas as receitas ou pratos que vou partilhando são sempre veganos porque esse é o estilo de vida em que acredito. A única coisa de origem animal que ainda consumo são os ovos, e costumava ser um consumo muito ocasional, apenas quando me ofereciam ovos caseiros. No entanto, quando tive de fazer uma alimentação baixa em FODMAP's (alimentos de difícil digestão), o ano passado, acabei por incluir os ovos biológicos na minha alimentação, que ficava muito pobre em fontes de proteína durante um mínimo de 6 semanas (ficaria reduzida a quinoa, tofu e tempeh, e eu não gosto de tempeh). Como é algo de que gosto muito, acabou por ir ficando. 


 Isto faz-me lembrar que muitas vezes ouço desabafos de pessoas que gostavam de ser vegetarianas mas sentem dificuldade, seja pelo hábito, pelo gosto ou outro factor, em deixar a carne ou o peixe de vez. O meu conselho é: vai com calma. Não é preciso fazer tudo de uma vez ou deixar tudo de um dia para o outro. Vai eliminando as coisas de que gostas mesmo e consegues prescindir mais facilmente, enquanto adicionas novos sabores, e vai fazendo progressos até chegares ao objectivo.

Transportes

Actualmente encontro-me em teletrabalho, o que me permite evitar o uso diário do carro. No entanto, já me desloquei diariamente para o trabalho de carro. Uma pessoa sozinha num trajecto de 35/40 minutos, duas vezes por dia. Já utilizei transportes públicos, quando era viável. Ao fim-de-semana, também me desloco de carro. Por vezes, a título de passeio, deixo o carro mais longe e faço uma parte do trajecto a pé, sobretudo no Verão. Outras vezes deixo o carro ainda mais longe e faço uma parte do percurso de metro.

Para viajar, recorro ao avião, que é o transporte mais poluente. Mesmo acontecendo apenas uma vez por ano ou menos, é um impacto ambiental grande. Mas trago memórias, experiências e tento equilibrar a pegada ecológica com a compra de produtos locais, não deixando lixo espalhado, respeitando os hábitos do local  e mantendo os cuidados que tenho habitualmente por cá (por exemplo, levo os meus sacos de rede para fazer compras nos supermercados estrangeiros e tenho recebido alguns sorrisos por isso!). 


Haveria mais exemplos de acções ou hábitos «imperfeitos», mas hoje fico-me por estes. Amanhã, um passo numa direcção melhor.


Segue-me também no Instagram: @slow_luna

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