Comecei a praticar o desapego antes ainda de ter ouvido falar em minimalismo.
Há uns anos, trabalhei numa loja de roupa e calçado juvenil e assisti a todo o tipo de situações consumistas que possas imaginar. Miúdos a mandar nos pais, adolescentes a exigir marcas, adultos extremamente ofendidos por a loja não ter disponível um produto do qual «precisavam». Com urgência. Para ontem. Havia birra para todos os gostos, idades e meio social.
Isso levou-me, na altura, a criar alguma repulsa pelo consumo exacerbado e pelas sucessivas modas e tendências que toda a gente parecia querer seguir, por algum motivo. Rapidamente procurei outro trabalho e deixei de frequentar lojas a título de passeio. Passei a comprar apenas as coisas de que precisava e não tudo o que achasse bonito ou a bom preço. Revi também tudo o que tinha, fiz várias limpezas ao armário e depois estendi a revisão a todas as outras áreas da casa.
Uns anos mais tarde começo a ouvir falar em minimalismo e a perceber que já lá andava sem saber.
Não se trata de contar peças e ter um armário cápsula com cores neutras, nem de dizer adeus a todas as coisas de que gostamos e ter salas vazias e brancas. Assim como há muitas maneiras de ser vegetariano, tantas quanto a imensidão de alimentos de origem vegetal nos permite, também há muitas formas de ser minimalista. Não há um nível a atingir, do estilo «só és minimalista quando tiveres apenas 30 peças de roupa». Não se trata disso, mas sim de rever os nossos padrões de consumo e perceber se realmente damos uso a tudo o que temos e se não somos acumuladores consumistas, sempre ansiosos pelo próximo «bom negócio» ou a próxima tendência a entrar no armário para ser usada duas vezes.
A título de exemplo... Eu tinha uma paleta de 50 sombras e, a dada altura, tive uma infecção nos olhos e tive de descartar a paleta, porque não sabia a origem da infecção e a paleta estava fora de prazo. Durante os cinco anos em que a tive, houve cores que não foram estreadas. Por causa disto, não deixei de usar maquilhagem, mas percebi que cores utilizo mesmo com frequência e comprei apenas essas.
Com a roupa fiz o mesmo... Se sou pessoa de roupa confortável, para quê ter muita roupa justa? Se gosto de sapatilhas de plataforma, para quê ter alguns pares de saltos altos mais formais? Sei que «toda a gente tem no armário» mas... Não tem de ser. «E se tiveres um casamento ou uma festa?» Levo algo de que goste e que me faça sentir bem e confortável.
Fiz destralhe no armário, nos produtos de beleza e higiene e até na cozinha (sobre este assunto, fiz até um post com um desafio para terminar os produtos que não usava com frequência e não voltar a comprar, que podes recordar aqui). A melhor maneira de começar é escolher uma divisão e, dentro dessa, um armário ou até começar por uma gaveta. A técnica da Marie Kondo é muito interessante: olhar para o objecto e perguntar «isto traz-me alegria?». Se não traz, é arranjar-lhe outro destino. Não faz sentido ter armários cheios de coisas que só nos fazem perder tempo a limpar o pó e sacudir para voltar a guardar, ou ter peças de roupa para ocasiões que nunca surgem (e que, quando surgem, se calhar já nem gostamos), ou coisas que foram caras e temos pena de descartar (se foi caro e não usas, não valeu o dinheiro... porque não oferecer a alguém que goste ou vender?).
No próximo post, trago uma pequena lista de «Coisas que eu só tenho 1», para mostrar como é possível e muito prático, em algumas áreas, termos apenas um objecto para determinada função.
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