Quando um assunto nos diz tanto, pode tornar-se frustrante que nem todos os que nos rodeiam lhe atribuam a mesma importância. Precisamos todos deste planeta para viver, e não existe outro à espera na fila para ser destruído pelo nossos hábitos. A acção de cada um de nós é fundamental, embora as grandes medidas não estejam, infelizmente, ao nosso alcance. Precisamos de contar com o apoio das grandes empresas, dos governos e de um compromisso com todo um paradigma instalado. Não é preciso abdicar de tudo, mas é importante repensar, questionar e encontrar alternativas.
Já te lançaste no caminho da sustentabilidade e gostavas de convencer amigos e família a fazer o mesmo mas não sabes como? Desde logo, mais do que convencer, acho que o ideal é inspirar. Ninguém gosta de sentir que está a ser forçado a seguir um caminho. Apontar o dedo a alguém pode ter o efeito contrário do desejado. Por outro lado, continuar a fazer a nossa vida «mais verde» com tranquilidade e ir deixando, aqui e ali, umas dicas e umas explicações sobre o que fazemos, pode gerar curiosidade e pequenas cedências.
Nem toda a gente quer, pode ou consegue fazer todas as suas compras a granel, usar detergentes ecológicos, fazer compostagem, abdicar de fast fashion ou até ser vegetariano (e abro aqui um parênteses para dizer que sou vegetariana, acima de tudo, pelos animais e não pelo ambiente, que é uma causa que me interessa desde mais recentemente). Ainda assim, há pequenos compromissos mais simples que as pessoas que nos rodeiam podem experimentar, se passarmos a mensagem da forma certa. Aqui ficam quatro dicas práticas e histórias minhas:
Inspirar pelo exemplo - Pode funcionar no local de trabalho, com pessoas que observam os teus actos diariamente. As empresas começam a estar mais sensíveis à questão da sustentabilidade, por isso, será mais fácil do que há alguns anos ajudar a implementar algumas medidas no sentido de diminuir a pegada ecológica do teu local de trabalho. Quando comecei a trabalhar, não era muito comum existir preocupação com esta temática. Trabalhei num sítio que descartava imenso cartão e plástico sem separar para reciclar. Como ninguém mostrava sensibilidade com o assunto, comecei a juntar o plástico e a levar na minha hora de almoço ao contentor mais próximo. Passado algum tempo, não precisei mais de o fazer porque a própria Câmara Municipal implementou um sistema de recolha desses materiais nos espaços comerciais do centro da cidade, mas o facto de ter começado a fazê-lo por iniciativa própria gerou uma grande onda de debates na empresa (tive colegas a dizer-me que eu estava a ser responsável pelo desemprego dos lixeiros - !!!! - , enquanto outros louvavam a acção e se disponibilizaram para fazer o mesmo nos seus sectores).
Mais tarde, noutro trabalho, juntei-me com uma colega e começamos a levar também as garrafas de plástico para reciclar. Passado uns tempos, a empresa decidiu instalar um sistema de filtragem de água e os colaboradores passaram a encher dessas torneiras as suas próprias garrafas reutilizáveis evitando, assim, o consumo de imensas garrafas de plástico.
Sugestões fáceis de aplicar - Há sempre coisas a melhorar: tenta perceber se as pessoas que te rodeiam têm abertura para aceitar dicas e sugestões. Uma coisa tão simples como trocar o gel de banho por um sabonete envolto em cartão já faz diferença e pode ser um passo acessível para «converter» pais e avós.
Presentes ecológicos - Sou da opinião de que, quando oferecemos algo, devemos ter em conta o gosto da pessoa e não o nosso. Por isso, não ofereço forçosamente presentes ecológicos a torto e a direito para «converter» os meus amigos e familiares mas, se a pessoa demonstrar interesse por um produto específico, um aniversário ou época festiva pode ser uma boa oportunidade para lhe dar a conhecer esse tipo de alternativas. Por exemplo, tenho uma amiga que tinha curiosidade em experimentar escovas de bambu mas acabava por comprar as escovas de sempre no supermercado. Bem sei que escova de dentes não é propriamente um presente habitual mas, quando chegou o aniversário, ofereci-lhe uma escova de bambu e juntei outra lembrança. Se o teu amigo ou familiar já demonstrou curiosidade com determinado produto, é um presente que se torna útil, original e vai agradar-lhe com toda a certeza!
Disponibilidade para explicar - Enquanto usas a tua garrafa reutilizável, comes as tuas bolachas caseiras em vez das empacotadas, levas os teus sacos de pano ao supermercado ou mastigas pastilhas dentífricas, atenta nas reacções das outras pessoas. Se te questionarem ou ficarem intrigadas, explica o que estás a fazer e por que motivo é importante. Por vezes, as pessoas estão tão habituadas a fazer as coisas de determinada maneira que nunca consideraram alterar os seus hábitos, mas isso não quer dizer que, perante alguma consciencialização, não estejam dispostas a conhecer novas formas de fazer!
Algo que considero importante, quer na área da sustentabilidade quer no vegetarianismo, é ter em conta que nem todas as pessoas terão a mesma proximidade que nós em relação a estes assuntos. Devemos compreender isso e respeitar as convicções, estilo de vida e gostos dos outros. Todas as pequenas mudanças importam e devem ser celebradas, e não apontar o dedo à pessoa que ainda não está no mesmo ponto do caminho. Talvez lá chegue mais tarde ou talvez nunca queira fazer parte. Por outro lado, muitas opções ecológicas ainda implicam um investimento superior às suas alternativas tradicionais e nem todos podem assumir esse compromisso. Em alguns casos, o investimento inicial compensa a longo prazo (como no caso do copo menstrual, do qual falei neste post) mas isso nem sempre acontece e importa também estar ciente de que este ainda é um mercado elitista em alguns aspectos (além de todo o greenwashing que o crescimento do tema tem trazido).
O conselho mais importante de todos é: usar o que já tens é SEMPRE a opção mais ecológica. E é esta a mensagem mais importante a disseminar. Para mim (e esta é apenas a minha opinião), mais importante do que comprar produtos ecológicos, é dar uso ao que já temos e comprar apenas o necessário. Diminuir o consumismo é o primeiro passo para diminuir a nossa pegada ecológica e ser mais sustentável.
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